segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dorme meu anjinho...


Na sexta, fui chamada à clínica pelo meu pequeno Gorki e passamos o dia todo juntos, ao que ele veio a nos deixar no final da tarde, por volta das 19hs. Não houve absolutamente tempo algum para pensar em mais nada, apenas para ficar com meu pequeno, em seus últimos momentos terrenos, sentir seu cheirinho, seu calorzinho, aliviar suas horas, tranquilizar o que quer que fosse que pudesse lhe ocorrer.

A dor ainda é muito grande, me dói demais essa separação, essa saudade, esse saber de não mais o ter pertinho, não ter mais seu cheirinho. Sei que ele foi tranquilo a partir de nossa chegada, que ele finalmente deitou e dormiu a tarde toda conosco, que reagia aos carinhos conhecidos, que quando eu dizia para ele brincar, correr, ele sonhava tranquilo, que em determinado momento, pouco antes de nos deixar, fez movimentos com a boquinha como se mamasse novamente, foi incrível e sereno nas horas finais...

Por isso somente hoje tento, aos pouquinhos, retomar afazeres, não sem dificuldades... Como pode lágrimas não esgotarem?

Enfim, quero dizer que meu querido não foi apenas um gatinho que amamos e que nos amou, foi um ser que patrocinou E É RESPONSÁVEL por tudo isso que aqui acontece. Foi por causa dele e da Agda, nossos primeiros gatinhos, que passamos a amar a todos os outros, a enxergar os outros animais, e tentar fazer alguma coisa para dar-lhes uma vidinha melhor. Foi na convivência deles que me despertou a consciência de muita coisa boa e a valorizar coisas muito mais importantes, reavaliar morais e noções que muitos esqueceram. Foi olhando para eles que me dei conta que em algum lugar e alguma cultura, eram parte da cadeia alimentar, e que portanto, se eu amava uns, não poderia comer outros. E assim, passamos a não comer nenhum animal também.

Tudo, tudo devo a ele. Meu administrador. Meu ajudante de costuras. Ele, que nunca se importou com a chegada de mais e mais hóspedes. Ele, o ajudante, que me observava e se eu ralhava com uma bagunça de um amigo, ele corria atras, dava um toque nas costas do fulano, como dissesse: hei, cara, manera aí! - mas nunca foi agressivo, jamais. Pelo contrário, era um gatinho mais que amoroso, brincalhão, que adorava brincar de fiozinho, de estender lençol, que amava de dormir cheirando abraçado ao meu braço.
Dormir agora, vai ser muito difícil. Abaixo, a cartinha amorosa do papai...


"Gorki filho querido,
queria te escrever a mais bonita das cartas, mas as lágrimas não caem com força suficiente no teclado. Só queria te agradecer por ter mudado a minha vida e a da Thi. Foste um companheiro de todas as horas, um exemplo de cuidado com a tua família.
E mesmo nessa maior arte que nos aprontaste – já que nunca gostou muito de gatinhos arteiros, inclusive dava uns corretivos em quem bagunçava a casa -, que foi partir tão cedo, tiveste todo cuidado de nos deixar bem.
Esperou que chegássemos à clínica, nos permitiu mais algumas horas contigo, dormiu em nossos braços, sonhou e foi tranquilamente, num momento de uma paz indescritível.
Não consigo dizer quase nada do que queria, tive dúvida sobre dizer alguma coisa nesse momento trágico e de desespero, mas senti que precisava escrever alguma coisa para compartilhar com os amigos esse sentimento de que sempre vale a pena, que esse amor fisicamente pode ter data de validade, mas que por toda essa intensidade tenho certeza que dura para sempre e nos torna melhores.
Muito melhores.
Amem os seus, façam tudo que puderem por eles, porque a vida é isso, estar perto dos seus, agradar os seus e viver cada momento desse amor.
Te garanto Gorki amado, que vou cumprir o que te prometi, que é te deixar partir em paz, sabendo que aqui seguimos com todo nosso amor e nossas responsabilidades, pelos nossos, que são teus, e por todos os outros que precisarem.
(Não vou dormir agarrado em tuas roupinhas, chorando e parecendo desistir, como fiz quando há um ano a Bimbi se foi, e a obriguei a vir no sonho).
Tinha te dito que logo que tu fosse embora, escreveria para dar um ponto nessa fase terrena.
Aqui temos pedacinhos de ti por todos os lados, vivos e em lembranças, que vamos cuidar com todas as nossas forças.
Não perdemos, ganhamos mais uma nessa vida. Essa lição está vida aqui dentro meu reizinho.
Deixaste essa vida e veio morar em nossos corações e pensamentos.
Vai em paz, meu filhinho querido, aí na fotinho pouco antes de nos despedirmos.
Te amo, te amo, te amo..."

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